sexta-feira, 22 de agosto de 2008

dormirpradespertar e Duchamp






Realmente é um luxo...uma honra poder fotografar as roupas da dormirpradespertar junto às obras do Duchamp, no MAM de São Paulo. Foi delicioso esse exercício improvisado que fomos fazer...
Em 1920, a propósito de "Fresh Widow", um ready-made obtido a partir de uma janela verde com painéis de pele preta, Marcel Duchamp criava um pseudónimo: Rose Sélavy. Mais tarde, em 1921, Rose Sélavy "ganhava" um "r" e transformava-se em Rrose Sélavy... "EROS c'est la vie". O pseudônimo de Duchamp apontava claramente para uma direcção erótica. O duplo "Rr" estaria ligado a uma pintura de Francis Picabia - "Oeil Cacodylate" - onde alegadamente o autor terá pedido a diversos amigos para assinar a obra e Duchamp terá escrito "Pi Qu' habilla Rrose Sélavy", estendendo o significado de "EROS c'est la vie" para "Arroser la vie" - qualquer coisa como "Picabia aproveita a vida". Estes jogos de palavras, ou trocadilhos, se quisermos, são freqüentes na obra de Duchamp. O artista francês gostava de jogar com as palavras, cativando e, ao mesmo tempo, confundindo as pessoas. A única coisa que levava a sério era o erotismo e esse era um dos principais motores das obras idealizadas por Rrose Sélavy, a par das ilusões ópticas (ou "precisões ópticas", como lhes chamava Duchamp). São estas "precisões ópticas" que estão na origem dos famosos "rotoreliefs" - ilusões ópticas a 3 dimensões, quando apresentadas numa superfície rotativa, como um gira-discos.
A 30 de Agosto de 1926, Marcel Duchamp (sob o pseudónimo Rrose Sélavy) apresenta "Anémic Cinéma" pela primeira vez ao público, num cinema de Paris. Filmado em conjunto com o amigo e artista Man Ray, "Anémic Cinéma" socorre-se do tal mecanismo ilusório provocado pelos "rotoreliefs", alternando-os com uma série de trocadilhos franceses encaixados numa espiral giratória. À partida, o significado figurativo de trocadilhos como "la moelle de l' épée" e "la poele de l' aimée" roça o "non-sense". Contudo, a referência às relações sexuais torna-se óbvia com a leitura dos discos seguintes. A marcha acelerada dos trocadilhos e dos "rotoreliefs" provoca uma explosão de ilusões ópticas no espectador (originadas pela inconsistência da percepção humana) e, de repente, as formas estampadas no ecrã (na tal superfície plana...) assemelham-se aos seios e à genitália evocadas pelas palavras. Em "Anémic Cinéma", a sexualidade não é revelada através das palavras, nem tão pouco está representada nas tais "precisões ópticas". Em "Anémic Cinéma", a sexualidade é interpretada pelo espectador, quando olha para a justaposição dos textos e dos "rotoreliefs". Em "Anémic Cinéma", a sexualidade é vista por... nós.

essas informações foram são do livejournal

Nenhum comentário: